quinta-feira, 4 de julho de 2013

Violência nas Escolas

VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS


                                                                 José Carlos de Anunciação Cardoso
INTRODUÇÃO

             A sociedade mundial tem sido um pouco indiferente relativamente aos seres que são socialmente frágeis e que muitas vezes adotam condutas violentas como forma de proteção e/ ou imitação. A violência nas escolas não é um fenômeno novo. Todavia tem vindo a assumir proporções tais que a escola não sabe que medidas tomar para sanar este problema.
              Pretende-se com este trabalho fazer uma breve abordagem sobre os fenômenos da violência exercida por jovens nas escolas e como tal fato é devido àproblemas de inadaptação, confirmando se essa inadaptação é consequência do meio onde se inserem.
              Ao longo deste trabalho será alvo de reflexão o papel da família na educação numa perspectiva histórica até aos dias de hoje; o fenômeno de violência e como ela se registra na sociedade; a violência nos jovens frutos da ausência de referências positivas no meio onde se circunscrevem; análise da violência e seus implicados no contexto escolar e se poderá haver uma interação positiva ou não entre a escola e seus alunos. Serão também apontadas as causas da violência, sua prevenção e como o educador social, enquanto profissional qualificado, poderá agir na prevenção do fenômeno em questão.

O Papel da Família na Educação

              O conceito de família nem sempre foi o mesmo, sofreu alterações de acordo com o evoluir dos tempos. No Antigo Regime, não existia os termos criança ou adolescente, a criança não tinha infância, era considerada um "adulto jovem". A este propósito, Philippe Ariés (1988: 10-11) refere que:

"passava-se diretamente de criança muito pequena a adulto jovem, sem passar pelas várias etapas da juventude de que eram talvez conhecidas antes da Idade Média e que se tornavam o aspecto essencial das sociedades evoluídas dos dias de hoje".

              A educação da criança não era assegurada pela família. Cedo as crianças se envolviam com os adultos em atos sociais tradicionais, de ajuda aos pais, nos labores habitacionais no caso das meninas e nos meninos na conservação dos bens e negócios familiares. Era deste modo que adquiriam conhecimentos evalores essenciais à sua formação.
              Hoje, em família abordam-se temas que eram impensáveis no passado. Os pais já não são os senhores absolutos da lei e da ordem, nem os únicos cuidadores dos bens da família. Por seu turno, as mães não são unicamente as protetoras do lar e zeladoras da educação e formação dos filhos.
              Todavia, devido às exigências atuais, os pais cedo colocam os filhos em creches. Chegam a casa, exaustos de um dia de trabalho, têm ainda as lides domésticas ou trazem trabalho para casa. A criança é colocada sozinha a ver televisão ou a brincar sem um adulto que lhe dê atenção. A relação familiar centra-se prioritariamente nas necessidades físicas da criança, ou seja, na alimentação, na higiene, no descanso. Desde criança que as novas tecnologias imediatamente as seduzem e permitem a aquisição de novos saberes. O seu conhecimento vai progredindo através das informações que recebe do meio onde se insere, do meio familiar, do grupo de pares, da escola, dos meios audiovisuais. Enquanto jovem, o lazer e o convívio com os colegas têm uma importância primordial no seu processo de socialização e formação.


Violência e sociedade

              Desde sempre o Homem exerceu e foi alvo de violência. Recorde-se a bíblia que retrata uma série de crueldades das quais Jesus Cristo foi vitima; enforcamentos em praça pública; homens que lutavam até a morte nos coliseus para deleite da assistência; a Santa Inquisição que vitimou inúmeras pessoas, onazismo e as excessivas guerras que povoam a história da humanidade. Vários autores têm tentado explicar as causas deste fenômeno. Freud é da opinião que o Homem tem uma predisposição inata para a violência, nasce e cresce numambiente violento, porque também a sociedade é violenta.
              As crianças assistem a desenhos animados televisivos nas quais as personagens utilizam a violência para conseguir os seus intentos, por vezes são atos nobres tais como salvar um amigo em perigo ou para salvar o planeta. O poder de sedução da televisão e a capacidade de imitação das crianças formam uma cumplicidade que pode atuar perigosamente na formação cognitiva destas.
              A violência pode igualmente ser considerada de âmbito público ou de âmbito privado. A primeira é mais visível, influi e distorce a imagem da sociedade. É a que mais preocupa o Estado, pois é geradora de polêmica. A segunda é mais recôndita, como é o caso da violência familiar, com o cônjuge ou com os descendentes.

A Violência na Escola

              Os meios de comunicação audiovisual, não raras vezes retratam acontecimentos violentos protagonizados pelos alunos nas escolas. De fato, inverteram-se os papéis; os métodos violentos de alguns professores eram tradicionalmente mais frequentes no mundo escolar: castigo físico, humilhações verbais. Atualmente, os professores não podem exercer qualquer tipo de castigo aos alunos sob pena de sofrerem sanções disciplinares, mas e os alunos? Que perfil apresenta os adolescentes que se envolvem em atos de violência nas escolas.
              Os comportamentos violentos na escola têm uma intencionalidade lesiva. Podem ser exógenos, ou seja, determinados de fora para dentro, como acontece nos bairros degradados invadidos pela miséria e pela toxicodependência, onde agentes estranhos ao meio o invadem e destroem; pode tratar-se de violência contra a escola, em que alunos problema assumem um verdadeiro desafio à ordem e à hierarquia escolares, destruindo material e impondo um clima de desrespeito permanente; ou são simplesmente comportamentos violentos na escola, que ocorrem sobretudo quando esta não organiza ambientes suficientemente tranquilos para a construção de valores característicos a este local. A violência pode ser desencadeada fruto de muitas situações de indisciplina que não foram resolvidas e que constituem a origem de um comportamento mais agressivo.
              Para combater a violência, a escola tem de analisar a forma como é exercido o seu controlo, tem que se organizar pedagogicamente, para conseguir deter a violência não só interior mas também exterior.

Prevenção da violência
      A violência surge em contextos e em situações bem conhecidos. Torna-se imperiosa uma intervenção educativa, não só dirigida aos jovens, mas a todos os cidadãos, pois todos, enquanto sociedade global, somos culpados e deveremos ser chamados a intervir para contribuirmos para uma sociedade mais justa e igualitária.            
              Numa sociedade tecnológica, consumista e competitiva, que valoriza a aquisição de bens de qualquer forma, que só dá oportunidades aqueles que já possuem algo, o comportamento desses jovens poderá ser considerado como adaptativo. É imperioso mudar o enfoque sobre a questão da marginalidade, e, consequentemente, sobre os direitos humanos. As medidas tutelares educativas só deverão ser tomadas se outras ações preventivas tiverem sido já executadas e tiverem falido. Não adianta tratar um sintoma sem primeiramente investigar a sua causa. É muito fácil rotular os atores de violência de desequilibrados, de maus, de desestruturados e não fazer nada para alterar estes comportamentos.

O Papel do Educador na Prevenção da Violência
              O educador é um profissional que pode agir e atuar na prevenção e resolução dos problemas de violência. A transmissão de conhecimentos e conteúdos programáticos compete aos docentes. A intervenção poderá ser ao nível da prevenção primária e secundária, centrando-se a "educação preventiva primária" em campanhas de sensibilização contra a conduta violenta na escola, realizadas nas escolas, meios de comunicação social, formação de professores, pais e educadores.
              O campo de ação do educador social são os sectores sociais em desequilíbrio, além de solucionar determinados problemas próprios da inadaptação, tem duas funções não menos importantes: a primeira, desenvolver e promover a qualidade de vida de todos os cidadãos; a segunda, adaptar e aplicar estratégias de prevenção das causas dos desequilíbrios sociais.
              A tarefa do educador é prevenir e intervir em situações de desvio ou risco em qualquer franja mais debilitada da sociedade, de forma a criar mudanças qualitativas. Deverá exercer intencionalmente influências positivas nos indivíduos. A educação social atua concomitantemente com outros trabalhadores sociais de modo interdisciplinar na proteção e promoção sociais.
              A quem intervém é necessária prudência, como profissional, salvaguardando os direitos da criança e sua família.



CONCLUSÃO

              O debate sobre violência deve levar todos a repensar seu papel na construção de uma escola inclusiva e de qualidade.  A sociedade tem vindo a sofrer significativas transformações. A família, núcleo primordial de educação, tem vindo dissimuladamente a delegar esse papel para a escola, dado que é no contexto educativo que as crianças passam a maior parte do dia. Todavia, nenhuma outra instituição poderá jamais substituir as condições educativas da família, nem parece ser razoável que seja unicamente a escola a ensinar valores tão necessários para o normal desenvolvimento da criança tais como: ademocracia, as regras para a sã convivência, o respeito pelo outro, a solidariedade, a tolerância, o esforço pessoal, etc. À escola não se pode pedir que além de ensinar os conteúdos programáticos exigidos, tenha também que ter a função educativa que compete aos pais.
              No meio de tudo isto, a verdade é que a violência continua a existir e a registrar-se cada vez mais na população jovem. A escola não pode ignorar que os conflitos e problemas sociais existem, e por isso tem vindo a adaptar-se como pode. E é precisamente na escola que as crianças imitem comportamentos que diariamente observam. Meios onde proliferam os maus tratos físicos e psicológicos, onde as privações, a promiscuidade, a baixa escolarização, apobreza andam de mãos dadas.
             Neste campo, urge uma intervenção conjunta realmente eficaz, fornecendo à população em risco modelos de conduta adequados ao desenvolvimento afetivo, intelectual e moral de todos os implicados. Nós, sociedade democrática, somos responsáveis pelas consequências educativas das nossas ações.
              Não podemos deixar que as crianças se transformem em futuros inadaptados ou futuros marginais, só porque não tiveram referências positivas na infância e porque as diversas entidades educativas se foram “esquecendo” que essas crianças também necessitam de carinho, de afeto, que também são seres humanos como todas as outras crianças. 


Referências Bibliográficas

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ARIÈS, Philippe (1988). A criança e a vida familiar no Antigo Regime. Lisboa: Relógio D’Água Editores.
ARREGI GOENAGA, F. (1998). Los Jóvenes y la violencia. In PANTOJA (Org.).Nuevos espacios de la educación social. Bilbao: Universidad de Deusto.
Convenção sobre os direitos da criança. [consulta 2004-04-13].
FERNANDES, Cadi (2 de Março de 1998). Crianças sem referências positivas.Diário de Notícias. [consu
Lei n.º 166/99, de 14 de Setembro (Lei Tutelar Educativa)
MARTINS, Ana Cristina [et.al.] (Junho 2004). A escola na comunidade local.Espaço S – Revista de Educação Social. N.º4. Odivelas: Instituto Superior de Ciências educativas.
MATOS, M., e CARVALHOSA, Susana F. (2001). A violência na escola: vítimas, provocadores e outros. Tema 2, n.º 1. Faculdade de Motricidade Humana/ PEPT – Saúde/GPT da CM Lisboa.
PONCE ALIFONSO, Cármen (1995). La intervención en los procesos de inadaptación social. Revista Claves de educación social. [consulta 2004-05-05]. Disponível na Internet: http:// www.eduso.net.
RASCÃO, Bruno (4 de Maio de 2004). Sampaio critica experiências permanentes na educação. Última Hora. Público. [consulta 2004-05-05]. Disponível na Internet: http:// ultima hora.publico.pt.

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