Introdução
Em um mundo de
crescente globalização dos mercados, a formação de blocos
econômicos torna-se
uma estratégia importante e, do ponto de vista dos países
periféricos, pode
contribuir para o fortalecimento de suas posições nas negociações em fóruns
internacionais.
Nos últimos 15 anos a região do
Cone Sul assiste a um tipo diferente de integração, e de certa forma inédito na
história das relações internacionais. A integração europeia, por exemplo, foi
eminentemente resultado de políticas de convergência dos principais países da
Europa Ocidental, que decidiram se integrar economicamente, e posteriormente
sofisticaram a sua integração, também levando em consideração a livre
circulação de pessoas.O processo de integração entre Argentina, Brasil,
Paraguai e Uruguai, tenta repetir, sem a mesma intensidade e o mesmo sucesso, o
modelo da União Europeia.
Cabe destacar, no entanto, que nestes países houve
um elemento diferenciador desde a década de 90, com a relevante participação
das cidades sul-americanas no processo de integração regional. Cabe lembrar que
a criação do Mercosul e seus primeiros anos, foram influenciados fortemente
pela ideia de globalização inevitável e de um caráter eminentemente econômico
que os tempos do pós-Guerra Fria traziam. A Globalização econômica, com a União
Europeia, com a NAFTA, a discussão sobre a ALCA e o recém-criado Mercosul, era
a ordem do dia.
É preciso relembrar, todavia, que os
movimentos de resistência a essa globalização econômica tida como inevitável,
com os Fóruns Sociais Mundiais, que tiveram também grande repercussão, na
resistência a esse processo levado a cabo pelos países e suas chancelarias. Na
América do Sul, por exemplo, além da mobilização da sociedade civil, dos
movimentos estudantis, ambientais e sindicais lembrando que “Um outro mundo é
possível”, as cidades também começaram a se organizar propondo uma integração
regional diferente - que não tivesse sido baseada somente a partir dos grandes
interesses econômicos, e sim a partir da realidade local e dos temas das
cidades: educação, cultura, turismo, desenvolvimento urbano, entre outros.
Antecedentes
O acordo do Cone Sul
não foi produto de pressões empresariais para aprofundar vínculos já
estabelecidos, mas resultou de uma decisão política de reverter uma tendência
histórica de deterioração das relações comerciais entre Brasil e Argentina.
No período 1981-85, o
valor do intercâmbio comercial dos dois países declinou continuamente, voltando
a crescer a partir de 1986, ano em que foi assinada a Ata para Integração
Brasil-Argentina, que instituiu o Programa de Integração e Cooperação Econômica.
Seu principal objetivo era propiciar um espaço econômico comum com a abertura
seletiva dos respectivos mercados e o estímulo à complementação de setores
específicos da economia dos dois países. Em 1988, a fim de consolidar o
processo de integração, foi assinado o Tratado de Integração, Cooperação e
Desenvolvimento, que estabeleceu o prazo máximo de 10 anos para a formação de
um mercado comum entre o Brasil e a Argentina, o qual foi ratificado pelos
Congressos dos dois países em agosto de 1989. As situações instáveis dificultam
ou obstaculizam o processo integracionista, dadas as dificuldades de
cumprimento dos acordos e de abrir mão de uma certa dose de autonomia na
condução das políticas macroeconômicas.
O Uruguai já mantinha acordos bilaterais com o
Brasil — Programa de Expansão Comercial (PEC) — e com a Argentina — Convênio
Argentino-Uruguaio de Cooperação Econômica (CAUCE) —, os quais continuam em
vigência.
Além disso, o maior
impulso à integração deu-se devido ao protecionismo dos países
"centrais", que não só afetava a introdução de produtos latino-americanos
em seus mercados como questionava e pressionava a busca da autonomia tecnológica,
dando como exemplo as pressões dos EUA sobre o Brasil em seu projeto nuclear e
de informática. Adicione-se ainda o debilitamento do diálogo Norte-Sul e as
novas discussões no âmbito do organização mundial do comércio, que, além de
negociações estritamente comerciais, debater temas como serviços, propriedade
intelectual e investimentos diretos.
Em julho de 1990, os
Presidentes Menem e Collor decidiram acelerar o processo de integração e
assinaram a Ata de Buenos Aires, a qual fixou o prazo de 31.12.94 para a
conformação definitiva do mercado comum entre Brasil e Argentina, prevendo a eliminação de todas as barreiras
tarifárias e não tarifárias. Essa Ata mudou a
metodologia das relações bilaterais: da gestão do processo por
protocolos setoriais nos quais o
objetivo era constituir complementações comerciais e industriais em setores produtivos
— passa-se a um esquema de integração mais geral e automático, o que reforçou a
necessidade de coordenação das políticas macroeconômicas dos dois países.
No decorrer de 1991,
o Tratado de Assunção foi examinado e aprovado pelo Congresso dos quatro
países, já estando em andamento o Programa de Liberação Comercial (reduções
tarifárias progressivas), bem como, no final desse ano, foi aprovado o
Regulamento Interno do Grupo Mercado Comum e foram regulamentados os protocolos
sobre Solução de Controvérsia e Certificado de Origem, dentre outras medidas.
Barreiras a serem
superadas
Quando da análise da
situação latino-americana, destacaram-se seus problemas neste último decênio,
os quais dificultaram, em parte, o esforço integracionista. O oneroso serviço
da dívida externa aliado à instabilidade macroeconômica dos países aumentaram
os desequilíbrios em potenciais produtivos e exportadores de cada país.
A dívida externa da
América Latina representa um viés antiintegração na medida em que os países se
vêem compelidos a não trocar superávits comerciais frente a terceiros países
por equilíbrio comerciai intrazonal.
A integração
limitou-se ao âmbito comercial dada a carência de políticas comuns de produção,
que impediu que se desenvolvesse uma dinâmica integradora de comércio
intra-industrial.
O comércio
intra-industrial ocorre, normalmente, entre países de níveis tecnológicos similares
que, por problemas de escalas, se especializam em determinados produtos
trocando-os, o que resulta em maior diversidade de produtos semelhantes.
A proximidade do valor da renda "per
capita" (tamanho relativo), principalmente entre Uruguai, Argentina e
Brasil, indica a existência de perfis de demanda comparáveis—apesar das diferenças na
distribuição pessoal da renda —, o que poderia favorecer o aproveitamento das
economias de escala, mediante a especialização intra-industrial.
As situações
macroeconômicas flutuantes e instáveis obstaculizam qualquer
processo de
integração, uma vez que dificultam o cumprimento dos acordos. Portanto, uma das
árduas tarefas a serem cumpridas é a coordenação de uma política econômica comum
que, necessariamente, passa pela estabilização interna das economias dos respectivos
países. Integrar não significa apenas abolir barreiras comerciais, mas, sim, um
enorme esforço para a harmonização das políticas econômicas.
As dificuldades para
a harmonização podem residir no nacionalismo econômico, de natureza ideológica, bem como na difícil
obtenção de um nível mínimo de coerência macroeconômica entre desiguais
políticas setoriais implementadas em cada país, dada a existência de objetivos
conflitantes não só entre países como dentro de um mesmo programa de governo.
Nessa difícil meta. Brasil e Argentina desempenham papéis fundamentais, tendo
em vista sua representatividade conjunta no MERCOSUL, desde 1987. A
proliferação de acordos bilaterais de redução tarifária com o propósito de conformar
novas áreas de livre comércio em curto prazo traz consigo uma interrogativa: como
incorporar ou assimilar no MERCOSUL os acordos firmados por um dos integrantes com
terceiros países?
Essa questão revela a
problemática que a abertura de um país, via grande rebaixamento tarifário, pode
ocasionar aos demais membros do mercado comum. As preferências tarifárias
outorgadas tornam-se pouco significativas, tendo em vista a reduzida alíquota
em alguns setores e/ou produtos que o país-membro pratica com o resto do Mundo.
Conclusão
Na economia
globalizada de hoje, a integração regional representa uma oportunidade e, ao
mesmo tempo, uma necessidade para países periféricos como os do Cone Sul. O
MERCOSUL nasceu como um instrumento para o alcance de melhores condições de
inserção dos países do bloco na economia global, mas hoje, passa por dificuldades
e riscos. Ditos obstáculos devem ser superados, pois os benefícios da integração
são altos. Em especial, a integração das indústrias de infra-estrutura, cujos benefícios
são distribuídos para toda a sociedade; a energia, por ser condição para desenvolvimento
econômico, merece atenção especial. Destaca-se que, no caso do setor energético,
especialmente do gás natural, é necessário incluir na análise os dois países associados
ao MERCOSUL - Chile e Bolívia - tendo em vista a relevância de seus recursos
energéticos e de seus mercados para os países do MERCOSUL e vice-versa, ou seja,
a importância das indústrias e dos mercados de energia do MERCOSUL para estes países.
O Cone Sul enfrenta
problemas e desafios de envergadura na busca desta integração. Após a crise
asiática a atmosfera financeira tornou difícil o acesso ao crédito piorando a
situação macroeconômica dos países da região, que enfrentaram problemas como
baixo nível de atividade interna e dificuldades nos fluxos do comércio
internacional. Esta situação fez com que, algumas vezes, os governos tomassem
decisões unilaterais prejudicando o processo de integração.
A década de
1980 assistiu à transformação política e econômica da América do Sul; se, no
seu início, havia várias ditaduras militares, ao fim, eram poucas. Argentina e
Brasil encerraram seus regimes autoritários em 1983 e 1985. Com a democracia
formal, o processo de integração
impulsionou-se bastante.
Na década de
90, a perspectiva regional cedeu à global, com o fito de crescer mais, ao
vincular-se à zona de consumo norte - atlântica e pacífica; com a série de
crises econômicas no mundo entre 1997 e 1999, a quimera de um desenvolvimento
mundial fraterno evaporou-se.
Referências
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